16 outubro 2012

Um Olhar para a Habitação Rural


A agricultura familiar, segundo Alberto Duque Portugal, é aquela que se constituí com base em pequenos e médios produtores e que representam a maioria dos estabelecimentos rurais no Brasil, expresso numericamente por cerca de 4,5 milhões de estabelecimentos.

De acordo, ainda com Alberto Duque, o maior desafio da agricultura familiar especificadamente no Sudeste do Brasil tangencia a exigência, por parte dos consumidores, por produtos de qualidade e saudabilidade. Cabe ressaltar, também, que a agricultura familiar desempenha um papel social e econômico expressivo para diversos municípios e potencializa a dinâmica de co-dependência entre o urbano e o rural.

Assim, valorizar a agricultura familiar é promover a valorização de uma unidade portadora de significados sociais, culturais e ambientais. Esta percepção inaugura a multifuncionalidade da agricultura familiar, e possibilita visualizar a pluralidade temática que se pode estabelecer no desenvolvimento de políticas públicas. E ao se aprofundar esta realidade, surge a especificidade de cada grupo de agricultores familiares e a proposta de territorialidade, que é um mecanismo ímpar no processo de permanência do homem no campo. Esta análise permite enfatizar o atual direcionamento das atividades do campo, a busca pelo desenvolvimento sustentável.

Atualmente, cerca de oito a cada dez trabalhadores rurais desenvolvem a agricultura familiar, mas nem sempre foi assim. Nos meados do século passado, o Brasil sofreu um forte processo de êxodo rural e que consequentemente acelerou o processo urbano de desemprego, uma vez que a “cidade” seria palco de inúmeras possibilidades. Com o passar do tempo, a vida no campo começou a ser revalorizada e com ela o homem do campo teve sua relevância resgatada pelo sistema econômico e social.

Esta revalorização do homem no campo e a importância de seu trabalho, nas cadeias produtivas e alimentares, trazem consigo a emergência de políticas capazes de personificar o homem do campo como ator social, e proporcionar condições de sua permanência na vida rural, tendo em vista a grande dependência do homem da cidade com as atividades do campo.

Um dos mecanismos de incentivo a permanência do homem no campo é a oportunidade de habitação digna e que se adeque as realidades de vida sua família preservando sua identidade sociocultural.

A Fundação João Pinheiro organizou um estudo sobre habitação no ano referência de 2008. Neste estudo, a metodologia de avaliação do aspecto habitação é tratada a partir de dois princípios: déficit habitacional (se relaciona com precariedade, coabitação e adensamento populacional em unidades alugadas) e inadequação dos domicílios (se relaciona adensamento populacional em unidade própria, carência de serviços de infraestrutura, cobertura inadequada, e outros). Quantitativamente, de acordo com dados da FJP, estima-se que cerca de 16,5% do déficit habitacional pertence a zona rural (cerca de 917 mil domicílios), indicando 76 mil unidades habitacionais locados na Região Sudeste.

Além disso, de acordo com a PNAD 2011 – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio registra que 15,3% da população trabalha no campo, em um total de 14,4 milhões de pessoas, 7,3% a menos em relação ao PNAD 2009. A PNAD 2008 – Aspectos Rurais apresenta que 7,93% da população da região Sudeste mora em zona rural, sendo que o rendimento per capito de cerca de 43% desses residentes não ultrapassa ½ salário mínimo.

Neste estudo ainda foi explanado sobre o recurso de água encanada, cerca de 1/3 dos domicílios não apresentam esta estrutura, e 60% dos domicílios possuem fossa rudimentar.

Diante desta situação, percebe-se a emergência por soluções habitacionais rurais, a partir dos princípios da equidade, isonomia, cidadania e acessibilidade aos direitos; onde contemplem os critérios de salubridade, soluções nos serviços de infraestrutura e ofereça condições mínimas de existência digna e do exercício de sua cidadania. Tendo em vista tal emergência, não se pode desassociar a importância da mobilização social: de parceiros, agentes e beneficiários, e do caráter participativo, tanto nos processos decisórios quanto na execução de ações, tangenciando uma sustentabilidade harmônica entre o homem e o campo.

Assim, citamos este pensamento:

“Cabem, pelo menos, duas perguntas em um país onde a figura do cidadão é tão esquecida. Quan­tos habitantes, no Brasil, são cidadãos? Quantos nem sequer sabem que o são?”

Milton Santos: “Há cidadãos neste país?”
O Espaço do Cidadão, 1987

Que todos possam ser cidadãos!

                                                                                                                  Sheila Costa
Assistente Social do SINDIOESTE

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